quinta-feira

Depoimento de Arthur Bernardes de Castro Azeredo Coutinho, ex aluno

Cento e vinte anos iluminando, ilustrando, educando! 

            Nesta festividade relembro minha passagem pelo Colégio Estadual. Ali ingressei, em 1955, quando ele funcionava no Solar do Conde de Prados, ao lado do Jardim do Globo.
             O Reitor era o Dr. Antonio Viçoso Soares Ferreira, temido e respeitado, principalmente pelos alunos indisciplinados. Sua voz ecoava pelas salas, a partir da Reitoria, ao repreender determinado aluno
            O uniforme, de brim caqui, tinha estilo militar.
            Havia uma espécie de hierarquia contrapondo veteranos e calouros. Incontáveis cascudos na cabeça e chutes na bunda levei na descida da escadaria para o pátio, na hora do recreio, com a conivência dos inspetores de alunos que, naquela hora, providencialmente, desapareciam do local.
            Os inspetores do meu tempo eram os Srs. Fontana, Odilon, Divino, Lafaiete, Moura (que usava calças ‘boca de sino’ quando elas ainda não estavam em moda). Mais tarde, já no prédio novo, na Rua Baronesa Maria Rosa, viriam o João ‘Medalhão’, o Fernando Esteves, o “Borracha” (zagueiro do Olimpic) e a D. Emília.
            No Colégio Estadual, aprendi lições para toda a vida: História Universal, com o Dr. Fernando Victor. Geografia com o inesquecível Profº José Mendes de Vasconcelos Junior, que tinha um método infalível para nos explicar a dinâmica dos movimentos de rotação, translação e revolução dos corpos celestes de nosso sistema solar. Com D. Rosina Edde aprendi a resolver aqueles incríveis carroções aritméticos, que preenchiam todo o quadro negro. Com Fernando Vieira de Camargo, o “Fessô”, tentei aprender geometria, trigonometria esférica, trigonometria plana, mas nunca consegui (a culpa não foi dele). Essas coisas simplesmente não combinavam comigo. O Profº Clodoaldo Dantas Mota tentava enfiar em minha cabeça equações, logaritmos, número PI, triângulo retângulo (catetos e hipotenusa), quadratriz de Deinostratos, teorema de Pitágoras. A Profª D. Dulce Dutra ensinava francês com a doçura de voz que era sua característica maior. Fui aluno, também de francês, do Profº Garcia, apelidado “n’est pas” pela freqüência com que se utilizava dessa expressão; mais tarde meu colega de pescarias nas barranqueiras do rio Grande. Estudei Português com o professor Noé de Assis Lima, luminar em língua portuguesa, latinista emérito, pianista e poeta. Com a pianista Onidéia Costa Nunes e, mais tarde, com Denílton Varandas conheci a magia da música. O Cônego Faria ensinava Latim (cuja exclusão do currículo escolar configura-se como o maior crime já cometido contra o ensino no Brasil) com tal entusiasmo que nos contagiava: os sete reis latinos e etruscos de Roma (Rômulo, que matou o irmão Remo, Numa Pompílio, Túlio Hostílio, Anco Márcio, Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio, Tarquínio Superbus), as sete colinas (Aventino, Capitólio, Célio, Esquilino, Palatino, Quirinau, Viminau) de Roma Condita, o rapto das Sabinas, os gansos do Capitólio, Coriolano, Catilina, Julio César e De Bello Gallico. Com Vicente Romano Quintão, poliglota, professor de Português e Latim estudei Literatura, tendo como leitura obrigatória as obras de: Gil Vicente, Madame Stäel, Châteaubriant, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Gregório de Matos Guerra, Luiz Vaz de Camões, Manoel Maria de Barbosa Du Bocage (o professor Romano me brindou com dez em Análise Literária porque percebeu em meu trabalho sobre a “Pavorosa Ilusão da Eternidade”, que eu “também” era fã do poeta Bocage). Fernando Duque Estrada, historiador, professor de português, meu grande incentivador numa época em que eu só pensava em farra. Com o Professor Joaquim Santos Neto (Tiquinca) aprendi as sutilezas do vernáculo, com Hugo Paulucci, aprendi inglês (-Arthur, “go on the black-board”). Delmo Maria da Silva, era o mestre da educação física, líder e entusiasta condutor do Colégio Estadual nas Paradas Cívicas de Sete de Setembro.
            Como não me lembrar também dos ilustres professores João Anastácio, Moacyr Rocha, Cassais (espanhol que adotou Barbacena como sua terra natal), Padre Armando, Ítalo Sogno, Edison Rola, Ethel Mangualde, as irmãs Silva Paes, Benedito Carlos e tantos outros que a memória não guarda mais.
            Em minhas melhores recordações figura também o jornalzinho estudantil “O Trolei”, que tantas polêmicas suscitou, gerando brigas entre alunos e alunas em conseqüência das “fofocas” levantadas pelos “repórteres” e publicadas em seguida.
            Na Secretaria reinava o todo poderoso Sr Yvanée Bayão de Andrade, rigoroso, austero. Mais tarde, assumiu Dona Maria Pereira, de uma bondade sem par, apaziguando alunos brigões, contornando expulsões de salas de aula, sustando o envio de cartas para os pais, aconselhando, conciliando, enfim, um anjo de bondade em meio a um turbilhão de paixões próprias de uma mocidade que mal começava a enfrentar os conflitos da idade.
            Não poderia deixar de registrar que fui aluno da Professora Maria Leite de Castro Coutinho, a mãe Totoca, que não me punia pelas minhas irreverências em sala de aula porque podia fazê-lo de maneira muito mais eficiente em casa e não tenho nenhum trauma por isso.
            Registro meu depoimento em homenagem ao Colégio onde aprendi a ser gente e onde recebi ensinamentos que perduram até hoje.
            Deus abençoe o Colégio Estadual de Barbacena, Deus o ilumine e permita que continue lançando luzes principalmente sobre aqueles que a queiram ver.
            Desejo acima de tudo que sua flâmula continue tremulando altaneira, no mais alto mastro, conclamando a mocidade: “PERGE, JUVENTUS”!

                                   

Um comentário:

José Américo Montagnoli disse...

Tive o privilégio de ter sido aluno do professor Romano Quintão (EPCAR 68)que incentivou-me, sobremaneira, à leitura de grandes poetas tais como, Guilherme de Almeida do qual tornei-me um grande fã.
Grandes mestres tínhamos...