É
saudável passar um fim de semana no Restaurante do Zazaga, em Campolide, na
agradável companhia de amigos e familiares. A experiência vivida semana passada
nos fez gargalhar e emocionar de tantas recordações. Cada integrante atropelava
o outro na ânsia de contar o seu caso. A expressão que mais ouvida foi: “Você se lembra daquela?” Eram historias
verídicas de quando éramos estudantes do Colégio Estadual. Viajamos no tempo
com muita empolgação e alegria.
Você
se lembra do professor Tiquinca? Aquele que adorava mandar as meninas,
preferencialmente de saia, apagarem o quadro negro só para ver as pernas delas?
E daquela famosa frase dita por ele centena de vezes e que ninguém nunca deu
valor a ela? “O ê do verbo fechar é sempre fechado”. E a gente continua
pronunciando féchar.
E
da frase do professor Estrada? “Meninos! Coloquem as mãos sobre a carteira onde
eu possa vê-las!”.
E
daquele baliza que bebeu tanto antes do desfile de Sete de Setembro que não
agüentou ficar de pé e segurar a baliza?
Ele foi levado para casa pelo Professor Delmo, que o excomungou o dia
todo.
E
daquela colega, a Maria, ao ser perguntada “Quem Proclamou a República do
Brasil?”. Ela não se lembrava, estressou-se, enervou-se e disse ao professor
Vitor: “Eu não consigo me lembrar do nome, me deu um branco!”. E o professor: “Por falar em branco, me
responda: qual era a cor do cavalo branco de Napoleão?”. Ela se sentiu
humilhada, saiu da sala chorando, amparada por vários colegas. Esse caso
repercutiu no Colégio porque o professor era um renomado advogado e o pai da
colega era Juiz de Direito.
Lembra
do Luiz Cutia? Qual? Aquele que cortou propositalmente o dedo com uma lâmina e
pediu ao professor Ítalo para ir ao banheiro se lavar! Como demorou a retornar
o professor foi ver o que estava acontecendo. Lá, ele deparou com o Luiz
assentado no vaso sanitário com um livro de geografia aberto, escrevendo nas
mãos e braços as localizações dos países europeus, questão da prova. Realmente essa foi demais.
E
daquele cachorro que foi atropelado na rua e alguns alunos o levaram para a
sala de Biologia para o Professor Doutor Zé Amim cuidar dele? Quanta correria
na busca de remédio, seringa, agulha, gaze e outros. O cachorro saiu da
cirurgia mancando, latindo e mordendo nos curiosos. O Dr. Amim passou a ser o
nosso herói, protetor dos animais.
E
daquela colega que morava próxima ao jardim do globo, lembram dela? Aquela que
faltou a aula porque a tia morrera e estava sendo velada na sua residência? A
nossa turma, mal intencionada pediu ao professor liberação para que pudéssemos
ir ao velório. De 25 colegas lá estavam apenas dez, os demais foram para casa.
Eu me assentei numa cadeira longe da defunta. Percebi procedimentos estranhos
em duas senhoras. Elas usavam sapatos,
meias, saias, blusas tudo preto e cobriam o rosto com um véu, também preto. Ao
aproximarem do caixão, levantavam, olhavam para o cadáver, colocavam as mãos no
rosto e choravam copiosamente e desmaiavam. Sempre eram colocadas num sofá,
eram abanadas e ganhavam um copo de água com açúcar. A cena se repetia com a
chegada de alguém bem vestido. Só depois, no colégio descobrimos que elas são
chamadas de “carpideiras” (mulher mercenária que acompanhava os funerais
pranteando os mortos. Mulher que vive a lamentar-se, a lamuriar-se;
choramingas). Interessante é que a sobrinha da defunta não as conhecia.
Vocês
se lembram que nos fundos do Colégio Estadual tinha uma zona? A gente ficava na
espreita para saber quem entrava e quem saía.
Alguns colegas sacanas diziam: “Fulano você sabe quem acabou de entrar
na Casa da Conceição? Não! Quem? Seu pai!”. E assim era com irmão, irmã, mãe,
tio, tia e tudo que pudesse ver o outro nervoso. Vi muitas brigas acontecerem, principalmente
quando se falava em “mãe”. É como diziam: “Mãe é mãe”.
E
daqueles colegas que mastigavam papel, faziam bolinhas e as arremessavam no
teto? No final da aula o teto estava cheio delas. Uma vez o Alceu inovou,
lembra Goretti? Ele fez uma bolona, colocou nela um elástico e prendeu um papel
escrito: “Oi!” dos dois lados e jogou no teto. Foi um show a gente observar o
“Oi” cumprimentando todos da sala.
E
daquele bando de tarados que colocava um espelho no sapato só para ver as
calcinhas das meninas!
A
melhor de todas foi aquela do Téo, que foi para aula embriagado e se recusou a
dissertar sobre o tema “Se”. De tanta cobrança ele escreveu: “Se eu fosse urubu
cagaria na cabeça do professor Nogueira”. Ainda bem que escondemos a redação.
E
daquele aluno que perguntou em voz alta ao professor de francês, Garcia N`est
pa”: “Professor ontem fui traduzir um texto e não encontrei no meu dicionário a
palavra ALINE? A pergunta foi tão
descabida e absurda que não conseguimos rir dele.
Lembra
do Zé Carlos? Não! Aquele italiano grandão, forte que morava em Campolide e
hoje reside em Sá Fortes! Ele ficou famoso por quebrar os braços do Luiz Carlos
Campos e do Capixaba num único jogo de futebol no torneio interno do Colégio
Estadual.
E
daquele que fez uma bela redação sobre a cidade de Brasília e no final estragou
tudo ao dizer que foram os “camundongos” que construíram a nossa capital.
A
manhã se transformou em tarde, a tarde em noite e cada um com o fígado
desopilado voltou para casa.
Crônica enviada pelo ex-aluno Francisco Santana.